Aqui há muitos anos, estava eu a estudar à noite no Liceu Rainha D. Leonor, quando se ouve nos corredores que tinha caído um avião na Portela.
Notícia espantosa num país em que nunca nada disso tinha acontecido, mas como não tinha caído em cima do liceu (direção errada do aeroporto) as aulas tiveram o seu reinicio normal depois do intervalo.
Poucos minutos já dentro de uma aula (de matemática, segundo creio), veio a suspensão das aulas: o primeiro-ministro tinha morrido no tal acidente.
Suspensão das aulas, potencial suspensão das eleições eminentes. Lembro-me ainda de ter ido nesse fim-de-semana, depois de votar, estudar com colegas para a ajuda onde pude acompanhar o funeral pela televisão. Um polícia da PSP batendo continência ao esquife numa rotunda de Lisboa com as lágrimas caindo-lhe em catadupas pela face abaixo, ficou-me também na memória
Dizem agora, ao fim destes anos todos, que foi assassínio. Aparentemente involuntário, na pessoa de Sá Carneiro, premeditado na pessoa de Amaro da Costa. Mais ainda, apontam como motivo o incómodo causado pela investigação aos sacos azuis ainda existentes da guerra colonial.
Se for verdade, pergunto-me se será ainda possível encontrar responsáveis… e se os responsáveis já não forem impugnáveis, será ainda possível impugnar o responsável coletivo, isto é: as forças armadas?