Manifesto Cluetrain – As 95 teses em português ibérico.

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Alguém o tinha de fazer um dia destes, né?

  1. Mercados são conversas.
  2. Mercados são seres humanos, não segmentos demográficos.
  3. Conversas entre seres humanos parecem humanas. Elas são conduzidas em uma voz humana.
  4. Quer seja transmitindo informação, opiniões, perspectivas, argumentos ou apartes, a voz humana é tipicamente aberta, natural, sincera.
  5. As pessoas se reconhecem como tal pelo som desta voz
  6. A Internet permite conversas entre seres humanos que simplesmente não eram possíveis na era dos mass-media.
  7. Hiperligações subvertem a organização hierárquica.
  8. Tanto nos mercados interligados como entre funcionários interligados, as pessoas estão falando umas com as outras de uma forma nova e poderosa.
  9. Estas conversas em rede começam a permitir novas e poderosas formas de organização social e de troca de conhecimento.
  10. Como resultado, os mercados estão ficando mais inteligentes, mais informados, mais organizados. A participação num mercado em rede muda as pessoas fundamentalmente.
  11. As pessoas, nos mercados em rede, perceberam que elas têm melhor informação e suporte que os fornecedores. Chega de retórica empresarial sobre agregar valor nos produtos de consumo.
  12. Não existem segredos. O mercado em rede sabe mais que as empresas sobre seus próprios produtos. E, seja a notícia boa ou ruim, eles dizem-no quem os quiserem ouvir.
  13. O que está a acontecer aos mercados também está a acontecer entre os funcionários. Uma construção metafísica chamada “A Empresa” é a única coisa que separa “O Mercado” de “A Empresa”.
  14. As empresas não falam na mesma voz que as novas conversas em rede. Para suas pretensas audiências online, as empresas parecem ocas, ‘flat’, literalmente inumanas.
  15. Em apenas alguns anos, a actual homogeneizada “voz” do negócio – o som das missões empresariais e panfletos – parecerá tão rebuscada e artificial quanto a linguagem da corte francesa do século XVIII.
  16. As empresas que falam na linguagem do charlatão, não estão falando para ninguém.
  17. As empresas que assumem que mercados online são os mesmos mercados que costumavam consumir os seus anúncios na televisão estão-se a enganar a si próprias.
  18. As empresas que não perceberam que seus mercados passaram a ser redes pessoa-a-pessoa, e como resultado ficaram mais inteligentes, e profundamente unidos nas conversas, estão perdendo sua melhor oportunidade.
  19. As empresas podem já comunicar-se directamente com seus mercados. Esta pode ser sua última hipótese.
  20. As empresas precisam perceber que seus mercados estão-se a rir. Delas.
  21. As empresas precisam ser mais leves e encarar-se menos seriamente. Elas precisam de ganhar um senso de humor.
  22. Ter um senso de humor não significa colocar algumas piadas no web site empresarial. Pelo contrário, isto requer grandes valores, um pouco de humildade, honestidade, e um ponto de vista genuíno.
  23. As empresas que tentam “posicionar-se” devem ter uma posição. Idealmente, isto deve relacionar com algo que realmente seja importante para o seu mercado.
  24. Declarações bombásticas – “Nós estamos posicionados para ser o principal fornecedor de XYZ” – não constituem uma posição.
  25. As empresas necessitam descer de suas torres de marfim e falar com as pessoas com quem têm esperança de criar relacionamentos.
  26. Os departamentos de Relações Públicas não se relacionam com o público. As empresas têm na verdade um profundo temor de seus mercados.
  27. Falando numa linguagem distante, pouco atractiva, arrogante, elas criam paredes para manter os mercados à distância.
  28. A maioria dos planos de marketing é baseada no medo de que o mercado consiga ver o que realmente está acontecendo dentro da empresa.
  29. Elvis disse: “Não podemos caminhar juntos se não confiarmos uns nos outros.”
  30. “Lealdade à Marca” é a versão empresarial de “fidelidade matrimonial”, mas a separação é não só inevitável como está já aí. Porque estão em rede, os mercados inteligentes estão prontos para renegociar relacionamentos a uma velocidade incrível.
  31. Mercados em rede podem mudar de fornecedor da noite para o dia. Os trabalhadores em rede podem mudar de empregadores durante o almoço. Suas próprias “iniciativas de downsizing” obrigaram os empregados a fazer a pergunta: “Lealdade? O que é isto?”
  32. Mercados inteligentes irão à procura de, e encontrarão, fornecedores que falam sua própria língua.
  33. Aprendendo a falar com uma voz humana não é um truque de magia. Isto não pode ser “apanhado” numa conferência qualquer.
  34. Para falar em uma voz humana, as empresas devem compartilhar as preocupações das suas comunidades.
  35. Mas primeiro, elas devem pertencer a uma comunidade.
  36. As empresas devem perguntar-se a si mesmas onde as suas culturas empresariais terminam.
  37. Se suas culturas terminam antes de começarem as da comunidade, então elas não têm mercado.
  38. Comunidades humanas são baseadas no diálogo – em linguagem humana – sobre preocupações humanas.
  39. A comunidade do diálogo é o mercado.
  40. Empresas que não pertencem a uma comunidade de diálogo irão morrer.
  41. Empresas fazem de sua segurança uma religião, mas isto não serve de nada. A maioria está-se protegendo menos contra os concorrente do que contra seu próprio mercado e força de trabalho.
  42. Tal como nos mercados em rede, as pessoas estão também conversando entre si diretamente dentro da empresa – e não apenas sobre regras e regulamentos, directivas oficiais e lucros.
  43. Tais conversas estão tomando lugar hoje nas Intranets empresariais. Mas apenas quando as condições são favoráveis.
  44. As empresas tipicamente instalam intranets de cima para baixo para distribuir políticas de RH e outras informações empresariais que os trabalhadores estão dando o melhor de si para ignorar.
  45. Intranets tendem a ser chatas por definição. As melhores são feitas de baixo para cima por indivíduos participativos cooperando para construir alguma coisa muito mais valiosa: uma conversa empresarial intra-conectada.
  46. Uma intranet sadia organiza trabalhadores nos vários sentidos da palavra. Seu efeito é mais radical que os objectivos de qualquer sindicato.
  47. Ainda que isto assuste as empresas, elas dependem enormemente de intranets abertas para gerar e partilhar conhecimento crítico. Elas necessitam resistir à tentação de “melhorar” ou controlar estas conversas em rede.
  48. Quando intranets empresariais não são regidas pelo medo e limitadas por regras, o tipo de conversa que elas encorajam parecem-se com conversas de mercados em rede.
  49. Os organogramas funcionaram numa ‘ancien-economie’ onde os planos podiam ser completamente entendidos desde o topo das empinadas pirâmides administrativas e se podiam passar ordens detalhadas desde o topo.
  50. Hoje, o organograma é hiper-ligado, ao invés de hierárquico. O respeito por conhecimento prático é maior que o respeito por autoridade abstracta.
  51. Os estilos de gestão “comandar-e-controlar” derivam de, e reforçam, a burocracia, lutas de poder e toda a cultura da paranóia.
  52. A paranóia mata a conversa. Este é o ponto. Mas a falta de conversa aberta mata as empresas.
  53. Estão a ocorrer duas conversas. Uma dentro da empresa. Outra com o mercado.
  54. Na maioria dos casos, nenhuma das duas conversas vai muito bem. Quase invariavelmente, a causa da falha pode ser traçada nas noções obsoletas de comando e controle.
  55. Como política, estas noções são venenosas. Como ferramentas, elas estão quebradas. Comandar e controlar são encarados com hostilidade pelos trabalhadores intra-conectados e geram desconfiança nos mercados inter-conectados.
  56. Estas duas conversas querem também falar entre elas. Elas estão falando a mesma língua. Elas reconhecem suas vozes mutuamente.
  57. Empresas inteligentes irão sair do caminho e fazer com que o inevitável aconteça o quanto antes.
  58. Se a disposição de sair fora for encarada como uma medida de QI, então muito poucas empresas são sensatas.
  59. Embora subliminarmente no momento, milhões de pessoas agora online percebem as empresas como um pouco mais que curiosas ficções legais que estão activamente impedindo que estas conversas se cruzem.
  60. Isto é suicídio. Os mercados querem falar com as empresas.
  61. Infelizmente, a parte da empresa com que o mercado em rede quer falar está normalmente escondida atrás de uma cortina de fumaça, de uma linguagem que soa falsa – e muitas vezes é.
  62. Os mercados não querem conversar com charlatães e vendedores ambulantes. Eles querem participar nas conversas que estão acontecendo atrás do firewall empresarial.
  63. Coloque-se num nível mais pessoal: nós somos estes mercados. Nós queremos falar consigo.
  64. Nós queremos acesso às suas informações empresariais, aos seus planos e estratégias, seus melhores pensamentos, seu conhecimento genuíno. Nós não vamos nos conformar com o panfleto de 4-cores, ou com web sites cheio de malabarismos visuais mas sem nenhum conteúdo.
  65. Nós também somos os trabalhadores que fazem sua empresa caminhar. Nós queremos falar directamente com os clientes em nossas próprias vozes, não em frases escritas num roteiro de conversação com eles.
  66. Como mercados, como trabalhadores, ambos estamos cheios de obter nossa informação por controle remoto. Será que necessitamos de relatórios anuais impessoais e estudos de mercado de terceira-mão para nos apresentarmos uns aos outros?
  67. Como mercados, como trabalhadores, perguntamo-nos porque você não está ouvindo. Parece que você fala uma língua diferente.
  68. O calão inflacionado e pomposo que você utiliza por aí – na imprensa, nas suas conferências – o que tem a ver connosco?
  69. Talvez você impressione seus investidores. Talvez você impressione Wall Street. Você não nos está a impressionar.
  70. Se você não nos impressiona, seus investidores estarão fugindo. Eles não entendem isto? Se eles entendessem, eles não deixariam você falar desta forma.
  71. Suas noções antigas sobre “o mercado” fazem nossos olhos revirarem. Não nos reconhecemos a nós mesmos nas suas projecções – talvez porque nós sabemos que estamos em outro lugar.
  72. Nós gostamos muito mais deste novo mercado. De fato, nós estamos a criá-lo.
  73. Você está convidado, mas é o nosso mundo. Atire seus sapatos pela janela. Se você quiser negociar connosco, desça do pedestal!
  74. Nós somos imunes à publicidade. Esqueça.
  75. Se quiser que falemos consigo, fale alguma coisa. Que seja interessante, para variar.
  76. Nós temos algumas ideias para si também: algumas novas ferramentas que precisamos, alguns serviços melhorados. Coisas que estamos dispostos a pagar. Tem um minuto?
  77. Você está tão ocupado “fazendo negócios” para responder nosso email? Oh, desculpe, nós voltaremos mais tarde. Talvez.
  78. Você quer nosso dinheiro? Nós queremos sua atenção.
  79. Nós queremos que você largue sua viagem, saia fora do seu auto envolvimento neurótico, junte-se à festa.
  80. Não se preocupe, você ainda pode fazer dinheiro. Isto é, desde que isto não seja a única coisa na sua mente.
  81. Você percebeu que, por si só, o dinheiro é unidimensional e chato? Sobre o que mais podemos falar?
  82. Seu produto avariou. Porquê? Nós gostaríamos de perguntar ao tipo que o fez. Sua estratégia empresarial não faz sentido. Nós gostaríamos de falar com o seu CEO. Como assim ele não está?
  83. Nós queremos que você trate os 50 milhões de nós tão seriamente quanto você trata um repórter da Exame.
  84. Nós conhecemos algumas pessoas da sua empresa. Eles são fixes online. Você tem mais destes escondidos por aí? Podem vir cá fora e jogar?
  85. Quando nós temos perguntas, nós nos apoiamos uns nos outros para obter respostas. Se você não tivesse um controle tão restrito sobre o “seu pessoal” talvez eles pudessem estar entre as pessoas em que nós nos apoiamos.
  86. Quando nós não estamos ocupados sendo seu “target de mercado”, muitos de nós somos seu pessoal. Nós preferiríamos falar com amigos online do que olhar o relógio. Isto poderia transmitir seu nome melhor que seu web site de um milhão de euros. Mas você diz que falar com o mercado é trabalho do Marketing.
  87. Nós gostaríamos de saber o que está acontecendo aqui. Isto seria muito bom. Mas seria um grande erro pensar que estamos esperando de braços cruzados.
  88. Nós temos coisas melhores para fazer do que esperar pelas suas mudanças para vir fazer negócio connosco. Negócio é apenas uma parte de nossas vidas. Parece ser tudo na sua. Pense nisto: quem precisa de quem?
  89. Nós temos o poder real e sabemos disto. Se você não consegue ver a luz, algum outro verá e será mais atencioso, mais interessante, mais divertido para jogar.
  90. Na pior das hipóteses, nossa nova conversa é mais interessante que aquelas feiras comerciais, mais engraçada que qualquer sitcom da TV, e certamente mais realista que os web sites empresariais que temos visto.
  91. Nossa lealdade é para com nós mesmos – nossos amigos, nossos novos aliados e conhecidos, mesmo nossos companheiros de luta. As empresas que não tomam um partido neste mundo, também não têm futuro.
  92. As empresas gastaram biliões de euros no Y2K. Como é que elas não podem ouvir o tic-tac desta bomba-relógio do mercado? O que está em risco é bem mais importante.
  93. Ambos estamos dentro das empresas e fora delas. Os limites que separam nossas conversas parecem o Muro de Berlim hoje, mas eles realmente são apenas um engulho. Nós sabemos que eles cairão. Nós iremos trabalhar de ambos os lados para derrubá-los.
  94. Para as empresas tradicionais, conversas em rede podem parecer confusas, podem soar confusas. Mas nós estamos nos organizando mais rápido que elas. Nós temos melhores ferramentas, novas ideias e ausência de regras que nos fariam mais lentos.
  95. Nós estamos acordando e nos inter-ligando. Nós estamos observando. Mas não vamos ficar à sua espera.

Adaptação livre da versão brasileira por Júlio Anjos (aka Oitenta e Cinco). Razão? Porque a verão brasileira está avariada por todo o lado. Porque havia adaptações contextuais importantes a fazer e porque tremo sempre que substituo “empresa” por “biblioteca” e “mercado” por “leitores”…

Por 85

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